Especial Chuvas no Nordeste do Brasil - Parte I

Eventos climáticos provocaram as fortes chuvas na região nordestina

É triste saber das notícias e ver as fotos sobre o desastre na região Nordeste. As imagens são parecidas com o que vimos no Haiti, porém a cobertura jornalística frente a esse problema tão mais próximo de nós brasileiros é lamentável. A imprensa está mais preocupada em saber sobre a Copa do Mundo do que explicar a população e informar sobre os problemas que a população da região está passando. Isso pode ser comprovado equiparando o tempo na TV entre a cobertura da tragédia e os lances do futebol na África do Sul.

Fiz um Especial sobre o Haiti em janeiro e venho trazer aos meus leitores um Especial sobre os dois Estados Brasileiros mais afetados, Alagoas e Pernambuco. Do mesmo formato que em janeiro, não trarei aqui imagens sobre a tragédia: explanarei sobre o que ocorreu e colocarei a riquíssima variedade cultural existente na Zona da Mata Nordestina. Essa catástrofe natural já pode ser considerada segundos os especialistas a mais grave da história recente do país.

  • Afinal o que aconteceu? 
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é um fenômeno causado pelo encontro de ventos do norte e sul e costuma agir na região da Linha do Equador. Normalmente, é comum a ZCIT descer para o Nordeste e retornar a Região Norte no verão e no outono, mas nem sempre isso de uma forma normal e acabou provocando as chuvas intensas no Nordeste Brasileiro desde o dia 17 de Junho.


A área hachurada na Figura acima indica a posição da ZCIT e do Sistema de Alta Pressão do Atlântico Norte (AAN). As setas indicam a intensificação dos ventos alísios do nordeste. Quando as águas do Atlântico Norte estão mais frias que o normal, o AAN e os ventos alísios do nordeste se intensificam. Se, neste mesmo período o Atlântico Sul estiver mais quente que o normal, o Sistema de Alta Pressão do Atlântico Sul e os ventos alísios do sudeste se enfraquecem. Este padrão favorece o deslocamento da ZCIT para posições mais ao sul da linha do Equador, e é propício à ocorrência de anos normais, chuvosos ou muito chuvosos para o setor nordeste do Brasil.

As chuvas foram reforçadas por eventos comuns na região: a Alta Bolívia (que transporta umidade da Amazônia para outros locais) e as Linhas de Instabilidade (nuvens formadas no litoral).
Por outro lado, a estiagem na Região Sul é consequência da formação antecipada de uma grande massa seca que se formou no interior do País. Por causa da ação dessa massa, outros sistemas frontais - como as frentes frias - não conseguem avançar para o continente e as chuvas ficam concentradas nos oceanos e chegam somente ao litoral.
As mortes no Nordeste, na sua grande maioria, não decorreram de deslizamentos,  como foi o caso de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, mas de uma verdadeira massa de água que “varreu” a região, levando tudo que tinha pela frente.
Somente um volume de chuva extraordinário poderia provocar tamanha enxurrada. Em algumas áreas foram mais de 400 milímetros em tão-somente 72 horas. Observe  na figura  acima (Chuva estimada por satélite dos últimos dias) que o volume extremo de chuva foi muito localizado, o que ajuda a explicar a concentração severa de danos. A quantidade abundante de chuva somada ao fato dos rios de Alagoas serem afluentes dos de Pernambuco ampliou a tragédia no Estado de Alagoas.

  • Alagoas
Segundo o último levantamento da Defesa Civil de Alagoas, pelo menos 26.141 pessoas estão desabrigadas e precisam contar com o auxílio do Governo. O órgão procura ainda 607 desaparecidos, sendo que 500 são do município de União dos Palmares, um dos mais afetado pelos temporais.
As cidades que registram o maior número de desabrigados são: União dos Palmares (9 mil), Murici (5 mil), Rio Largo (2 mil) e Viçosa (1,2 mil). A situação é de caos em Alagoas e, além dos mortos, (num total de até agora 29) há ainda 800 pessoas feridas por conta de deslizamentos de terra e enchentes. 


  • Pernambuco 
 De acordo com a Defesa Civil de Pernambuco, pelo menos 49 cidades foram atingidas pelas chuvas, sendo que 13 decretaram estado de emergência, entre elas Cortês, Barra de Guabiraba, Palmares, Maraial e Vitória de Santo Antão. Há 17.719 pessoas desabrigadas e outras 24.331 estão desalojadas e morando temporariamente na casa de amigos e parentes. Ainda não há um número oficial de desaparecidos, mas já são 16 o número de óbitos.
  • Uma região histórica para a região e para o país 
 A Zona da Mata é a mais antiga região brasileira, onde foram desenvolvidas as atividades iniciais da colônia no século XVI. Abrange porções do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, numa faixa litorânea de até 200 km de largura.

O clima é tropical úmido, com chuvas mais freqüentes no outono e inverno. O solo é fértil e a vegetação natural é a mata atlântica, já praticamente extinta e substituída por lavouras de cana-de-açúcar desde o início da colonização (que hoje ocupa áreas do Rio Grande do Norte a Sergipe) e pela monocultura cacaueira (no sudeste da Bahia). A organização socioeconômica tem como características a forte concentração da renda e do poder na mão dos proprietários de terra (senhores de engenho, usineiros e fazendeiros). Desde o início da colonização, foi uma área de concentração populacional. O processo de modernização e industrialização, deflagrado pelo planejamento regional das últimas décadas, também contribuiu para ampliar a concentração demográfica.
Suas principais características são: 
  1. é a mais populosa área do Nordeste, onde se situam as importantes metrópoles como Salvador e Recife; 
  2. a agricultura é marcada pela monocultura, principalmente a da cana-de-açúcar, em grandes propriedades; a agroindústria do açúcar e do álcool associa-se a essa cultura; 
  3. o turismo é uma importante fonte de atividade; 
  4. o petróleo é o principal recurso mineral e ocorre principalmente no Recôncavo Baiano e em Sergipe; 
  5. as principais zonas industriais situam-se na Grande Salvador – incluindo o pólo industrial de Camaçari – e no Grande Recife.

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