Capela das Mercês de São Luiz do Paraitinga será entregue ainda em 2011

A obra de reconstrução da Capela das Mercês de São Luiz do Paraitinga - SP, a mais antiga igreja da cidade, teve início em janeiro de deste ano.

O projeto arquitetônico, de autoria do Iphan, respeitou as feições originais da antiga capela, incorporando todos os remanescentes retirados dos escombros. Os restos das paredes de taipa devem ficar à mostra, marcando a diferença entre o original e a construção nova. A previsão é que a igreja seja aberta à população antes do Natal. Esse empreendimento está estimado em R$ 2 milhões.

”O levantamento de plantas, cortes, estudos e o material recuperado, permite, com segurança, refazer os detalhes da construção que ruiu”, explica o arquiteto Antônio Gameiro. A imagem de N. S. das Mercês, que dava nome à capela, foi resgatada dos escombros por voluntários luizenses, fragmentada em 94 pedaços. O Iphan promoveu a completa recomposição e restauração da santa, já devolvida à Diocese. Também o púlpito, o sino, a cruz, o cruzeiro, os pináculos, as janelas, o forro e outros elementos decorativos, assim como os tijolos e as telhas devem voltar a integrar a igreja.

Videodocumentário sobre a história da cidade

O filme será distribuído a todas as escolas do município, reforçando a importância de São Luiz do Paraitinga para a história do Brasil e situando o momento atual.


O que estamos fazendo na cidade?
O vasto patrimônio cultural do município será mapeado por meio do Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC, metodologia desenvolvida pelo Iphan para a identificação do patrimônio cultural brasileiro. Com o INRC é possível documentar aspectos e marcos da vida social considerados referências de identidade para um grupo ou comunidade. Desenvolvido a partir de métodos etnográficos, o INRC sistematiza as pesquisas desenvolvidas pelo Iphan. A equipe responsável conta com uma geógrafa (Fernanda Correia), uma historiadora (Marly Rodrigues), um sociólogo (Clayton Peron), uma antropóloga (Daniela Perutti), além de três estagiários da área de ciências humanas. A empresa contratada para realização deste Inventário (Memórias Assessoria e Projetos) deve concluir até agosto o levantamento.

Outros projetos 

A cidade ganhará um centro cultural no imóvel do Cine Éden, que abrigou o primeiro cinema da região, em 1915. O estudo preliminar de arquitetura foi elaborado por técnicos do Iphan de São Paulo. Além do espaço de exibição de filmes, haverá um bar, uma sala comercial e uma área administrativa. O projeto executivo, arquitetônico e de engenharia, está em fase de elaboração.

A “cápsula do tempo”, encontrada entre os escombros da Igreja Matriz, será totalmente restaurada até julho. Essa caixa, enterrada sob a igreja em 1927, continha importantes documentos históricos, como um exemplar do jornal O Luizense, a programação do Cine Éden Paulista e do Teatro Santinha. Havia também um caderno manuscrito, com cerca de 200 páginas, nas quais nomes de moradores, descrições de prédios e estabelecimentos, dados de políticos e autoridades são citados, com fotos, nome de todas as ruas e até o preço estimado de cada uma das casas.

O restauro da Igreja do Rosário, o paisagismo e a restauração da Casa Oswaldo Cruz, onde será instalado o Memorial da Reconstrução, além das obras em dois imóveis privados de moradores carentes do centro histórico serão realizadas em parceria com o Instituto Elpídio dos Santos. O início desses empreendimentos deve ocorrer ainda em 2011.
Muitas outras ações do Iphan estão em curso neste ano.

Fontes: Ascom/Iphan Fotos: Fernanda Correia

Ações do Iphan em São Luiz do Paraitinga

No início de 2010, o centro histórico de São Luiz do Paraitinga foi completamente inundado, devido às fortes chuvas. O nível de água da chuva chegou a 11 metros de altura, cobrindo completamente o Mercado Municipal e causando o arruinamento de mais de 20 imóveis, entre eles a Igreja Matriz. A maior parte destes imóveis já era tombado como patrimônio histórico estadual, através do CONDEPHAAT.

Foi um ano intenso de salvamento e restauração desse patrimônio histórico. Logo após a tragédia, todo o corpo técnico do Iphan-SP foi mobilizada para ajudar a população e salvar o patrimônio histórico da cidade. Especialistas do Iphan de Goiás, que enfrentaram uma tragédia similar em 2001, também se ofereceram para contribuir e foram fundamentais no trabalho emergencial. 

O Ministério da Cultura destinou R$ 10 milhões para obras emergenciais de São Luiz do Paraitinga. Esses recursos foram empenhados na limpeza dos terrenos dos imóveis arruinados, além do escoramento de paredes e os demais projetos realizados pelo Iphan, e descritos na tabela abaixo.
 
Todas as peças encontradas nas igrejas foram resgatas num processo minucioso, totalmente manual. Dezesseis imagens sacras, como a de Nossa Senhora das Mercês, e São Luiz de Tolosa, padroeiro da cidade, foram totalmente restauradas e entregues à população. Mais de 700 fiéis compareceram à missa realizada em no final de novembro, que marcou a conclusão dos trabalhos de limpeza e resgate das igrejas e a entrega dos santos restaurados.

No final do ano passado, uma festa popular com 4 bandas locais, 2 grupos folclóricos, a Fanfarra Municipal, bonecões, arautos e mais uma dezena de atores marcou a celebração do tombamento do centro histórico como patrimônio brasileiro. Cerca de 2 mil pessoas participaram do evento, durante a tarde e a noite de domingo, 19 de dezembro. A missa ocorreu sob a estrutura de proteção do canteiro de obras da igreja. Construída com metal e telhas de amianto, a estrutura possui o mesmo volume do monumento arruinado, recompondo a paisagem urbana. O trabalho minucioso de resgate das peças sacras e o extenso levantamento documental produzido a respeito dos monumentos permitirá fiel reprodução das igrejas. No terreno da igreja Matriz, foram resgatadas 598 peças sacras, além de cerca de 313 mil tijolos e todos os pedaços do forro.

Nessa data também, o Iphan distribuiu pela cidade 10 mil cartões-postais contendo fotos recentes, reforçando a imagem de São Luiz do Paraitinga colorida, festiva e bonita. Produzidos em parceria com a Imprensa Oficial, os postais estão sendo distribuídos gratuitamente durante o mês de janeiro, em bares, restaurantes e outros pontos e grande movimentação do conjunto tombado.

O Iphan-SP montou um escritório técnico na cidade, propiciando a aproximação com a população, cuja parceria e reconhecimento foram e estão sendo essenciais no processo de recuperação da cidade. O trabalho conjunto de diversos órgãos do governo e a sociedade civil está reerguendo São Luiz do Paraitinga, elevando a auto-estima dos moradores. A cidade retomou o turismo e já prepara intenso calendário para o ano de 2011.

Investimentos do Iphan em São Luiz do Paraitinga

Exercício de 2010
                                                     
                                                                                
1        Salvamento dos remanescentes das igrejas Matriz e Mercês, trabalhos de limpeza e escoramento de 20 imóveis públicos e privados    - R$2.850.000,00
                                                                                
2        Estudo de instrução do tombamento federal - R$ 30.000,00
                                                                                
3        Obras emergenciais Igreja do Rosário, Casa Oswaldo Cruz e Instituto Elpídio dos Santos - BNDES  - R$ 1.000.000,00
                                                               
4        Festa popular: celebração do tombamento nacional - R$ 60.850,00
                                                               
5        Vídeo-documentário sobre a história da cidade - R$ 6.500,00
                                                               
TOTAL 2010        
R$3.947.350,00
                                                                                
                                                                                
Exercício de 2011                                                     
                                                                                
1        Restauro da Igreja do Rosário - $2.517.210,45
                                                                                
2        Reconstrução da Igreja das Mercês - R$1.300.000,00
                                                                                
3        Projeto executivo do Cine Éden (arquitetura e engenharia)  - R$ 67.000,00
                                                                                
4        Projeto executivo do Casa Elpídio dos Santos (arquitetura e combate a incêndio) - R$ 14.500,00
                                                                                
5        Projeto museográfico do Memorial da Reconstrução na Casa Oswaldo Cruz - R$ 190.000,00
                                                                                
6        Reconstrução de 2 imóveis privados no centro histórico de SLP  - R$ 533.149,08
                                                                                
7        Projeto de paisagismo do bosque da Casa Oswaldo Cruz  - R$ 144.500,00
                                                                                
8        Obra de paisagismo no bosque da Casa Oswaldo Cruz - R$ 250.000,00
                                                                                
9        Implantação do Memorial na Casa Oswaldo Cruz e construção de anexo - R$ 820.135,15
                                                                                
10        Restauro da “cápsula do tempo” - R$ 48.357,00
                                                                       
11        Oficina de informática para educação patrimonial - R$ 6.125,00
                                                                       
12        Inventário Nacional de Referências Culturais do patrimônio imaterial - R$ 78.900,00
                                                                       
TOTAL 2011        R$ 5.969.876,68
                                                                                
TOTAL em obras e serviços        R$ 9.917.226,68

Fonte: Ascom/Iphan-SP
Fotos: Portal R7, VNews

A nova pegada dos viajantes

Viajar é uma das atividades mais antigas da humanidade. O interesse do homem em interagir cultural e economicamente é uma das sementes da globalização. Esse processo avança com a mesma velocidade com que aumentam os viajantes pelo planeta. Hoje o turismo é a atividade econômica que mais cresce. Estima-se que até 2020 cerca de 1,5 bilhão de pessoas viajarão pelo mundo a cada ano. É quase o dobro dos atuais 900 milhões de turistas, que, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), movimentam US$ 860 bilhões.

Se o turismo é cada vez mais lucrativo, seu impacto na sociedade e no meio ambiente também está crescendo. E não é preciso ser um expert para enxergar. Basta visitar uma grande cidade turística no feriado. Tumulto, lixo e criminalidade podem estar tanto em Times Square (foto), em Nova York, quanto em Copabacana, no Rio de Janeiro.

Por isso, em um país como o Brasil, onde o turismo é apontado como uma solução para o crescimento econômico de regiões como a Amazônia e o Pantanal, é tão importante questionar sobre as possibilidades reais de existir um desenvolvimento sustentável do turismo.

O ecoturismo foi a primeira proposta que buscou responder a essa questão. A ideia de turismo responsável em ambientes preservados surgiu no final da década de 80, quando biólogos, cientistas e amantes da natureza decidiram estabelecer critérios para os visitantes irem a ambientes frágeis sem alterar a paisagem com lixo ou provocar outro tipo de impacto. Foram instaladas as primeiras plaquinhas de madeira, que apresentavam o mantra do ecoturismo: “Da natureza nada se tira, a não ser fotos; nela nada se deixa, a não ser pegadas; e dela nada se leva, a não ser lembranças”.

Vinte anos e alguns ambientes alterados e degradados depois, surgiu a compreensão de que a ideia era mais complexa que as palavras. A solução encontrada foi a certificação. Ou seja, a criação de selos internacionais e normas para limitar a visitação e ordenar a forma de viajar a certos destinos. Países como a Costa Rica ficaram famosos por terem sido os pioneiros no processo, ainda em 1997. No Brasil, os selos de certificação surgiram quase uma década depois.

“Devemos isso à criação do Ministério do Turismo, em 2003, que passou a olhar a atividade com mais profissionalismo”, diz Jota Marincek, da operadora Venturas & Aventuras. “No começo, era tudo muito instintivo, não sabíamos quais critérios seguir, só sabíamos que não queríamos impactar a natureza e ao mesmo tempo precisávamos garantir um bom passeio ao nosso cliente”, diz Marincek, que hoje trabalha na aplicação da certificação brasileira, conhecida como “norma ABNT NBR 15401 [1] para meios de hospedagem e requisitos para a sustentabilidade”.

[1] Esta norma nacional segue critérios internacionais promovidos pela International Ecotourism Society (Sociedade Internacional do Ecoturismo, em uma tradução literal).

A elaboração da norma abriu a possibilidade para que hotéis, pousadas e operadoras se alinhassem às boas práticas que norteiam o turismo responsável. O problema é que se trata de um processo novo e lento. Dados do Ministério do Turismo mostram que menos de dez estabelecimentos brasileiros são certificados.

“A certificação não é o início, e sim o fim. Quando ocorre é porque já superamos todos os problemas. Por isso, acredito que só teremos um número significativo de locais certificados daqui a uns 20 anos”, explica Roberto Mourão, diretor-presidente do Instituto Ecobrasil, uma das principais entidades que ajudaram o Ministério do Turismo formular as regras do selo nacional.

O lado positivo é que a certificação brasileira é uma das mais exigentes do mundo. Ao contrário da Costa Rica, que permite ao empreendimento adquirir “folhas de certificação”, à medida que muda de conduta, no Brasiloempresário precisa primeiro atender a todos os critérios da norma, para depois levar o selo.

E os critérios são diversos, como o cuidado com efluentes, a garantia de renda justa aos seus terceirizados, como motoristas e funcionários, e diligência na destinação do lixo. “Quando você leva uma pessoa a viajar, é quase impossível que essa ação não gere um impacto. A grande questão é garantir que o impacto seja minimizado e não vire um dano permanente”, diz Mourão.

Outro ponto favorável para o Brasil são algumas boas experiências de turismo voltado para a sustentabilidade, pelas quais populações tradicionais recebem e compartilham o seu modo de vida com os viajantes. Em Mamirauá, no município de Tefé, no Amazonas, está um dos exemplos mais respeitados do mundo. Uma região onde o turismo é totalmente coordenado e alinhado com as aspirações de uma comunidade local.

O projeto nasceu do sonho de uma reserva de desenvolvimento sustentável conquistar sua autonomia econômica sem alterar o modo de vida dos ribeirinhos, e gerar poucos danos à natureza. A prova maior para o projeto ocorreu em 2003, com a morte do idealizador da iniciativa, o cientista José Márcio Ayres. Sete anos depois, Mamirauá conseguiu provar ao mundo que o turismo pode, sim, ser uma boa solução econômica para muitas regiões.

Hoje, os maiores obstáculos para a sustentabilidade do turismo no Brasil estão no setor “tradicional”, que inclui as grandes operadoras e redes internacionais de hotéis e resorts. Empreendimentos muitas vezes acusados de sobrecarregar de forma desordenada regiões como Porto Seguro, na Bahia. A solução para mudar as condutas inadequadas parece vir de uma imposição para mudança de paradigmas imposta por instituições financeiras, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

“Ser sustentável virou uma exigência permanente para empréstimos de toda nova atividade. E essas exigências vão além dos estudos de impacto ambiental previstos na lei, pois grandes financiadores como o BID querem também informações sobre como ordenar toda a cadeia local, incluindo questões como efluentes e o lixo das cidades”, diz Edimar Gomes, diretor do Programa Regional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), do Ministério do Turismo, que visa desenvolver o turismo nos estados.

A exigência parece ter fundamento. “Até 2007, a cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, um destino apontado como exemplo de sustentabilidade, não tinha tratamento de esgoto. Como podemos acreditar na sustentabilidade do turismo nessa região sem resolver uma questão tão básica?”, questiona Gomes. “De nada adianta certificar o hotel, se a estrada que leva a determinada cidade vai permitir um acesso ilimitado, o município joga o esgoto no rio e não tem aterro sanitário”, explica. “Só olhando a cadeia como um todo é que vamos evitar que o turismo vire uma ameaça à sociedade.”

Exploração

A prostituição infantil é um dos exemplos mais lamentáveis do impacto social do turismo desordenado. A exploração sexual de crianças e adolescentes por turistas estrangeiros e brasileiros é considerada uma epidemia nas praias do Nordeste. “O Brasil passou muitos anos sendo vendido como o país do sol, do carnaval e da mulher bonita”, diz Elisabeth Bahia, diretora do programa com o curioso nome de Turismo, Sustentabilidade e Infância, do governo federal. Elisabeth diz que seu maior obstáculo é convencer os empresários a treinarem seus funcionários para lidar com o problema. “Atendentes e recepcionistas precisam perder o medo de denunciar.” Ela também concorda que o combate deve envolver toda a cadeia do turismo. “Em Fortaleza, descobrimos que os maiores agenciadores de crianças e adolescentes são os taxistas”, afirma.

Enquanto o setor privado não se organiza, uma das soluções encontradas foi criar programas para profissionalizar as jovens. “Empregamos 900 adolescentes em mais de sete estados, e estamos dando treinamento profissionalizante para outras 800. Melhorar a autoestima delas e dar oportunidade de renda justa é uma forma de resolver a questão, mas ainda precisamos mudar a cultura do turismo que se instalou em determinadas regiões.”

Quatro anos em jogo

A Copa do Mundo em 2014 será a grande chance de o Brasil provar que superou os problemas e conquistou avanços. O País deve receber 600 mil visitantes estrangeiros e a propaganda gerada pelos jogos deve fazer o turismo crescer 15% até 2015. A contribuição da atividade pode ir dos atuais 2% para 4% do PIB.

São turistas que devem visitar regiões de ecoturismo, o turismo sustentável em comunidades tradicionais, e também se hospedar na rede hoteleira tradicional, pois os jogos estão espalhados por 11 estados e o Distrito Federal, cada um com uma vocação diferente. A experiência pode ser a prova de que o setor conseguiu evoluir seguindo critérios de sustentabilidade, ou uma tragédia completa.

A vinda de mais turistas estrangeiros ao Brasil deve agravar um problema: o aumento das emissões de gases responsáveis pelas mudanças climáticas, por causa das viagens aéreas. O avião é um dos meios de transporte mais poluentes, responsável pela emissão de quase 2% dos gases de efeito estufa.

Uma das poucas opções para minimizar o problema é reduzir o impacto de suas viagens por meio da neutralização do carbono (por meio do plantio de árvores em um número capaz de compensar a emissão feita no deslocamento). Mas é uma iniciativa que não responde à necessidade de um corte radical nas emissões e de busca de um novo modelo.

Os aviões talvez sejam uma prova do tamanho do desafio de viajar com menos impactos, algo talvez somente possível quando buscarmos a sustentabilidade em toda a cadeia do turismo. O que inclui até o engajamento para encontrarmos combustíveis menos poluentes para os aviões que nos levam pelo planeta. 

Museus brasileiros se esforçam para atrair visitantes

Especialistas debatem estratégias e tentam resolver problemas desses espaços culturais do país 

O Brasil recebe cerca de cinco milhões de turistas a cada ano. Se 10% desses visitantes resolvessem procurar os museus das cidades visitadas, provavelmente as instituições não teriam estrutura para atendê-los.
 
Especialmente se a eles se somarem os poucos visitantes locais. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, recebe 300 mil visitantes por ano. É a melhor média nacional. 

No geral, não chega a 10% da população o número de visitantes das instituições museológicas distribuídas pelo país. O índice é menor que o de Portugal, cuja população é quase metade dos 19 milhões da cidade de São Paulo e sua área metropolitana.

A criação de editais destinados à área e recursos da União, somados, fizeram com que os museus recebessem incentivos de R$ 120 milhões anualmente de 2008 até hoje. No entanto, queixas como acessibilidade, baixos índices de visitação, dificuldades de organização museológica e manutenção de reservas técnicas persistem.

Toda vez que um roubo surpreende um museu brasileiro, a demanda por formação em segurança para profissionais da área aumenta e o tema ganha corpo em encontros e conferências. Este ano, no entanto, nenhum Picasso ou Matisse foi saqueado dos museus nacionais. Especialista do Conselho Internacional de Museus (Icom), o francês Alain Raisson, acredita que é uma das maiores preocupações das instituições. “O problema mais importante é a manutenção dos sistemas de segurança. Isso quando existem, porque nem sempre existem. E, sobretudo no que diz respeito aos roubos, à formação de pessoal”, diz o especialista, que já precisou evacuar toda uma área do Museu do Louvre por conta de um vazamento no sistema de aquecimento. “Só deu certo porque havia planejamento. Tudo estava pronto.” 

 A Política Nacional de Museus estabeleceu um estatuto obrigatório para todos as instituições do governo federal. Entre as obrigatoriedades está a confecção de um plano museológico. “Se tornou uma exigência que os museus se planejem e estruturem do ponto de vista da gestão para qualificar o serviço que servem à população. Eles têm que estruturar um bom plano para que possam qualificar seus serviços, por isso essa oficina tem grande procura. E eles têm que captar recursos para as atividades”, explica José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram. “O estatuto tem um monte de obrigações, mas muitos museus não sabem disso”, reclamou Átila Tolentino, especialista do Iphan em gestão de políticas públicas.

Estruturas precárias

“O brasileiro vai pouco aos museus”, constatou André Ângulo, funcionário do Museu da República do Rio de Janeiro e professor em cursos para guias de turismo. As estruturas são precárias, os museus não oferecem serviços básicos como visitas com guias auditivos, banheiros com papel higiênico, voucher ou até mesmo comissão para os guias. “As coisas não são do outro mundo, não são aparatos tecnológicos de Marte, mas os museus têm que compreender um pouco como é a dinâmica turística para poder mostrar o que têm. O turismo é ávido por novidades”, garante Ângulo. “Só que os museus não têm legendas em outras línguas e os guias que fazem hoje os receptivos dos grandes centros também não dominam o que tem lá dentro.”

No quesito atratividade econômica a situação piora. Segundo Luiz Carlos Prestes Filho, os museus não fazem parte dos três pilares da economia da cultura. “E isso dificulta as ações do Ibram. Os museus brasileiros não sabem como vender seus produtos e serviços. Temos que olhar para os acervos como ativos econômicos”, acredita. Representantes do Conselho Internacional de Museus (ICOM), escolheram o Brasil para a conferência de 2013. “É muito importante. Comparo com as Olimpíadas ou a Copa”, explica Vera Alencar, diretora dos Museus Castro Maya, no Rio de Janeiro. “Isso quer dizer que a museologia brasileira é respeitada no mundo inteiro e é muito bem estruturada. Ganhamos de Milão e da Rússia.”

Problemas na capital do país
 
Com o Museu de Arte de Brasília (MAB) fechado e os museus do Índio e Memória Candanga em situação aquém de suas capacidades, resta o Museu da República. Para José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram, a situação de Brasília é temerária. “Recebi o pedido para um evento de arquitetura de museu feito pela Secretaria de Cultura. Com o MAB fechado, o Museu do Índio na situação que está e os demais museus ligados à secretaria tudo em situação precária, eles pedem pela lei Rouanet R$ 800 mil para fazer uma evento de arquitetura internacional de museus em Brasília. É um contrasenso. Se há condição de captar R$ 800 mil para um evento que vai durar uma semana, esses mesmos R$800 mil abririam pelo menos o MAB e o Museu do Índio em outras condições”, diz Nascimento. “Isso em uma cidade que precisa se estruturar para receber a Copa do Mundo. Vamos ver o que esse seminário de arquitetura vai discutir em Brasília com os museus fechados.”

Entrevista com José do Nascimento Júnior — diretor do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
 
Plano museológico e Elaboração de projetos são os mais procurados para realização de minicursos em eventos. Por que?

Primeiro porque o plano museológico hoje, tendo em vista o Estatuto de museus, se torna uma exigência. Os museus devem se planejar e estruturar do ponto de vista da gestão pera qualificar o serviço que servem à população. Cada vez mais os museus buscam estruturar um bom plano para que possam qualificar seus serviços, por isso essa oficina tem grande procura. E o de projeto porque, por outro lado, eles têm que captar recursos para as atividades e, como há vários editais do MinC e do Ibram — como Petrobras, BNDES, Caixa — eles buscam se qualificar para que possam, de fato, captar recursos para projetos.

Por que o curso de Segurança de museus é mais vazio nos eventos?

Exatamente por isso. Toda vez que ocorre um roubo a gente chama atenção para a segurança, mas se a gente olhar no campo museológico essa não é a preocupação principal, ou porque alguns museus já estão reestruturados ou porque têm outras prioridades na área de captação. Não é uma prioridade da gestão. Abrimos o curso e sempre nos perguntam "vocês estão formando gente em segurança?". Estamos, tá aí aberto, mas a procura é pequena. Quando a gente faz pelo país também é pequena, é a menos pedida. A mais pedida é para planos, conservação, projetos e historiografia.

Hoje já foram realizados quatro fóruns nacionais de museus. O que mudou desde o primeiro?

No primeiro tivemos uma renovação muito grande. A quantidade jovens é grande. As pessoas pensam que estamos falando de sexagenários no fórum. Não. Há umaquantidade de jovens, de pessoas de movimento popular, tipo a Estrutural, que tem o ponto de memória, e de pessoas de áreas populares que querem ter seu museu de localidade, além de um amadurecimento do setor para reivindicar montar suas pautas para a construção de uma política de museus forte. Os convidados internacionais sempre ficam muito surpresos. E tem a maturidade que hoje o setor tem a partir da criação do Ibram, de saber o que é possível fazer e consolidar uma política nacional.

 
Entrevista com André Ângulo, museólogo do Museu da República, no Rio de Janeiro, e professor em cursos de turismo 

Qual a distância entre os museus brasileiros e o turismo?

A maior distância hoje está inserida dentro dos museus no sentido de entender o que é a atividade turística. E no sentido de os museus podere trabalhar com a questão de voucher, como os grandes pontos turísticos recebem, tipo Pão de Açúcar e Corcovado. Eles tem que entender o tempo e espaço, poder ofertar uma série de serviços dentro dos espaços museológicos como interpretação simultânea em guias auditivos, bons banheiros com papel higiênico. As coisas não são do outro mundo, não são aparatos tecnológicos de Marte, mas essa integração tem, pelo lado dos museus, de compreender um pouco como é a dinâmica turística e poder mostrar o que os museus têm. O turismo é ávido por novidades. E fica por conta do turismo de cobrar dos museus e saber o que podem realizar. Tem também a questão de produtos turísticos afeitos a seus alvos definido.

Por que os 5 milhões de turistas que visitam o Brasil não visitam museus?

Primeiro que os museus também não dizem muito, não se comunicam. Desses cinco milhões de turistas estrangeiros, uma parte parte são de latinos que buscam sol e praia. Se você pegar 1% dá 50 mil, a gente já teria uma super visitação de estrangeiros. Só que aí os museus não têm legendas em outras línguas. E os guias que fazem hoje os receptivos dos grandes centros também não dominam o que tem dentro dos museus. É mais fácil fazer Pão de Açúcar e Corcovado, que comissionam, do que ter um museu que vai ser desafiado. No Museu da República tem uma livraria e eu consegui convencer a mulher da livraria a comissionar os guias. É uma forma de atração. Outros lugares fazem, os museus têm também que mostrar um pouco isso.

E o turista brasileiro, ele visita os museus?

O brasileiro vai pouco aos museus, não chega a 10% da população. A gente tem a sexta maior rede de museus do mundo mas em visitação perde para Portugal, que tem 10 milhões de pessoas. Tem que ter uma questão tematizada dos museus e uma renovação. Às vezes a pessoa vai uma vez e não volta mais pela falta de atratividade desses espaços. Museus não são só espaços de exposição, podem ser espaços de várias coisas, de ter uma vida mais integrada à sociedade.

 
Entrevista com Alain Raisson, membro do Comitê de Segurança de Museus do ICOM, mora no Brasil desde 1997 e trabalhou no MAC de Niterói
 
Quais os problemas mais importantes no que diz respeito à segurança nos museus brasileiros?

A manutenção dos sistemas de segurança. Quando existem, porque nem sempre existem. E, no que diz respeito aos roubos, a formação de pessoal. Isso em todos os museus.

O Museu de Arte Moderna de Paris teve quadros de Picasso, Matisse e Modigliani roubados recentemente. Foi uma falha na segurança?

Foi uma falha humana. São ladrões que agem para revender e que têm uma ação rápida, eficaz, de entrar e sair o mais rapidamente. E depois tema a questão do pessoal. O sistema de segurança não estava funcionando e isso foi avisado pela equipe de segurança, mas os responsáveis não ligaram. Deviam ter feito ronda, mas não fizeram, porque com o sistema de segurança funcionando eles não faziam mais ronda.

É um pouco o que aconteceu o Masp?

Sim, exatamente, é perfeitamente comparável.

O que é essencial na formação de pessoal?

Acho fundamental lidar com pessoas que pertencem ao museu e não uma segurança terceirizada. As pessoas que fazem parte do quadro do museu podem ser formadas como guardas, como vigias que saberão eventualmente quem pode cometer um ato de vandalismo ou alguém que vem localizar as obras. Essas pessoas não mudam todo dia, são familiarizadas e têm competência para identificar que tal peça desapareceu ou que o quadro foi tocado ou não está fixado da mesma maneira porque alguém começou a tirar um parafuso, enfim.  Uma pessoa terceirizada que vem hoje ao museu, vai amanhã ao banco, não dá. O Museu da Marinha, por exemplo, entendeu isso e quer apenas gente da casa.

É mais difícil recuperar uma obra roubada na América Latina do que na Europa?

Não, é exatamente a mesma dificuldade. Atualmente, as obras de arte servem como moeda de troca tanto para armas quanto para drogas e as gangues intervém em qualquer lugar, seja na América do Norte, na Europa ou na América Latina.

Fonte: Nahima Maciel - Correio Braziliense (adaptado). ICOMOS/BRASIL (Lista de Informação)

Um ano de blog!


Quem diria completamos um ano no ar!

2010 foi um ano bem complicado em questão de saúde para a autora deste blog, mas fomos caminhando, acreditando na contribuição que esta ferramenta pode trazer aos queridos leitores! Muitas matérias poderiam ter sido veinculadas por aqui, mas o tempo foi mais cruel. Obrigado aos que contribuiram em seus comentários.

Espero que 2011 tenhamos cada vez mais leitores, repassando aos amigos e colegas às matérias pertinentes ao mundo da Geografia e da Cultura, de todos os povos.
Farei uma breve descrição do que foi assunto na temática do blog neste último ano, desejando a todos um excelente 2011 com a diversidade e a tolerância sendo ampliada em todos os cantos do planeta.